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Moda: Objetos de Desejo, Idolatria do Belo!

gemas preciosas

A moda é cheia de curiosidades. O como, porque, quando e onde tudo começou são respostas que apenas se começa a vislumbrar. Um dos pontos interessantes é a historia de fama, mistério, magia e poder das pedras preciosas através dos tempos.

O homem Cro-Magnon, que viveu no período Paleolítico Superior, por volta de 35.000 anos, decorava seus mortos com conchas e os pintava com ocre, enterrando-os com uma série de implementos, em rituais místicos. O estudo dos pequenos fragmentos encontrados e as recentes descobertas arqueológicas, já nos permitem criar um quadro mais claro destas sociedades. Sociedades reais, pois cada vez mais fica evidente que a estrutura social destes povos era mais organizada do que a princípio se supunha. Na verdade através do estudo dos objetos encontrados e lugares escavados até o presente chega-se a conclusão que o interesse dos homens pela arte e beleza surgiu há 250.000 anos.

Mesmo nos períodos mais negros da história, como na época da inquisição que se iniciou no século treze, as pedras jamais foram classificadas como nocivas ou heréticas como aconteceu com o resto do conhecimento holístico na época. Muito pelo contrário, a própria igreja era uma das mais fortes defensoras de seus poderes miraculosos. Através de documentos e lapidários antigos temos uma clara visão do uso das gemas.

Um exemplo curioso do poder creditado às pedras preciosas é documentado por Joan Evans em seu livro Magical Jewels of the

broche vitoriano

 Middle Ages and Renaissance. Segundo Evans durante o ano de 1232, o Chefe de Justiça britânico Hubert de Burgh foi indiciado por ter roubado, do tesouro real, uma pedra preciosa de grande valor e tê-la entregue à Llewellyn of Wales, inimigo de seu soberano. O valor intrínseco da pedra se dava, não em termos monetários, mas sim ao fato desta tornar, aquele que a possuísse, invencível nas batalhas. Os lapidários medievais, termo pelo qual são conhecidos os tratados mineralógicos e medicinais da época, proporcionam uma rica fonte de conhecimentos sobre a ciência antiga. Neles podemos conferir a importância do uso medicinal e mágico atribuídos às diversas pedras preciosas, tão populares e importantes na ciência e medicina até o início do século dezoito.

Durante todo o período medieval a moda se manteve estável, sem grandes mudanças. O vestuário feminino constituía-se de uma veste longa e larga, de decote alto ajustado por cordões, presa por um cinto. Por cima era usado outro traje semelhante ou uma capa. Na verdade esta era a roupa básica de ambos os sexos. Os homens podiam optar pelo uso de uma túnica de mangas compridas até os joelhos, as meias eram justas, presas a um cinturão e uma capa fechada por um broche. Apesar de o estilo básico permanecer o mesmo, os detalhes sofreram alterações no decorrer do tempo. As mangas passaram de longas e justas à longas e largas, abotoadas no punho. Depois se tornaram muito largas e compridas na parte de trás, quase arrastando pelo chão. As jóias femininas eram as correntes, broches, brincos, cintos e braceletes, ainda que esses fossem pouco usados. Já as jóias masculinas eram as bainhas de espada encrustadas de pedras preciosas, esporas, cintos e broches. As jóias devocionais, como relicários e medalhões com imagens santas eram usados por ambos os sexos. A partir do século treze, a joalheria foi influenciada pelo período Gótico e tornou-se mais pesada e rebuscada, tirando inspiração do novo estilo de arquitetura.

antigo lapidario

As primeiras informações documentadas das propriedades das pedras preciosas são textos de autores gregos como Theophrastus (371-287 a.C.), filósofo e sucessor de Aristóteles. Seu trabalho On Stones é o texto mais antigo existente sobre mineralogia. Escrito no século quatro antes de Cristo, descreve de forma clara e concisa, 16 minerais, agrupados como metais, terras e pedras, esses últimos tratando das propriedades das pedras preciosas. Outro documento grego importante foi escrito por Damigeron: De Virtutibus Lapidum ou As Virtudes das Pedras, e traduzido para o latim entre os séculos um e seis. Gaius Plinius Secundus, mais conhecido como Plínio o Velho (23 – 79), senador romano, comandante da frota imperial de Misenun, filósofo e historiador copilou, em seu trabalho Historia Naturalis, o conhecimento de seus predecessores e contemporâneos em uma obra de 37 volumes, dos quais o último trata da história, usos e exploração de pedras preciosas. Sua obra exerceu grande influência na Europa até o início da Idade Média. No século onze, Marbodius (1035-1123), Bispo de Rennes e escritor eclesiástico compôs um elegante lapidário baseado nos usos medicinais e mágicos das pedras preciosas. Outro trabalho importante é o texto de Albertus Magnus (1206-1280), De Mineralibus. O trabalho deste monge dominicano discute, de maneira minuciosa, a composição e propriedades de pedras preciosas e semipreciosas, imagens gravadas nas pedras e a natureza de metais e sais. Analisando o valor de imagens e símbolos gravados em pedras, Albertus chega a conclusão de que processos astrológicos podem imprimir características de uma espécie no material de outra.

Em 1920, em escavações no cemitério real de Ur, C. Leonard Wooley, arqueologista inglês, fez uma das mais espetaculares descobertas na antiga Mesopotâmia. Foi na cidade de Ur, local do nascimento do patriarca bíblico Abraão, que as mais antigas jóias de que se tem conhecimento, foram descobertas. Na tomba real de uma mulher chamada Pu-abi, identificada pela presença de um selo cilíndrico com seu nome gravado, foram encontradas peças magníficas de joalheria, que impressionam até hoje. 

regalia da rainha Pu-Abi - Ur, Mesopotamia

Um toucado de ouro, em forma de folhas, fitas, cordões de lápis lazuli, contas de cornalina e um alto pente. Além de gargantilhas, colares e grandes brincos em forma de meia-lua. Dez anéis decoravam seus dedos, seu colo estava coberto por cordões feitos de metais preciosos e pedras semipreciosas que se estendiam de seu pescoço até a altura do cinto. Um diadema feito de milhares de pequenas contas de lápis lazuli com pendentes em forma de plantas e animais descansava em uma mesa, ao lado do corpo. Enfim todo o tipo de jóias que ainda são comuns hoje em dia. Em Ur foi encontrado o primeiro registro de uma produção de moda organizada. Uma oficina produzia doze modelos diferentes de roupas. Em tabuinhas de cerâmica, ali escavadas, encontram-se registros com os nomes das tecelãs, o peso de lã confiado a cada uma delas e a quantidade de peças produzidas. Não existem moldes detalhando estes doze modelos de roupas, mas através de esculturas sumérias podemos conhecer um pouco de sua moda.

Exemplificando a distinção entre o uso medicinal e mágico das pedras preciosas e outras manifestações consideradas heréticas, durante esta era conturbada, temos as considerações de Tomás Aquinas, nas quais este analisa a questão do uso de pedras gravadas com símbolos e imagens. Considerando se era permitido o uso da divina palavra suspensa no pescoço, decidiu que seria permitido apenas nos seguintes casos: se maus espíritos não tivessem sido invocados no talismã; se a gravação da pedra não contivesse palavras incompreensíveis; se não houvesse nenhuma fraude ou outra influência creditável além da Divina e se não houvesse outro símbolo gravado além da cruz e nenhuma outra fé imbuída na maneira em que o talismã tivesse sido esculpido. Em muitos casos as inscrições mágicas gravadas nas pedras preciosas medievais ultrapassavam, em muito, os limites impostos pelo Doutor Angélico. Mas mesmo assim a estreita ligação entre ciência, fé e medicina, inerente ao uso das gemas na Idade Média, continuou forte e importante a ponto destas se manterem à margem do proibido.

Com o surgimento dos estudos empíricos e das pesquisas científicas nos séculos dezessete e dezoito, passou a haver uma diferenciação na conceituação das gemas. Estas passaram a ser classificadas dentro de um universo estritamente físico. Apesar dos conceitos de química, ótica e cristalografia desprezarem a bagagem mística que as pedras preciosas carregam há milhares de anos, estes conceitos estão enraizados no ser humano e se manifestam na maneira como as cores e brilhos das pedras atraem ou repulsam diferentes indivíduos.

A moda do final do século dezoito e início do século dezenove, com os vestidos em estilo império, promovia o uso dos pendentes, excelentes para atrair a atenção para o colo da mulher, valorizado pelos decotes baixos e cintura alta tão em voga na época. No início do século dezenove os colares apresentavam o estilo neoclássico: uma fileira simples de pedras preciosas ou pérolas, com uma série de pendentes. No século dezenove, surgiram as alianças de casamento, usadas junto com o anel de noivado, após a cerimônia. Os brincos tornaram-se mais simples, dando ênfase às pedras e não à montagem. Isto durou até 1840, quando a moda tornou-se mais suntuosa e os brincos voltaram a ser elaborados, montados em ouro trabalhado. Sendo o metal oco, tornava-se leve o que possibilitava a criação de peças grandes.

Por volta de 1860, com a revolução industrial, apareceram novidades como brincos com pequenas máquinas à vapor ou pássaros em ninhos. No final do século dezenove os brincos foram praticamente abandonados. Usava-se, quando muito, simples baguetes de diamantes. Os braceletes voltaram à moda nos séculos dezoito e dezenove. Atingiram seu apogeu em meados do século dezenove, quando eram o tipo mais comum de jóias. Durante as décadas de 1820 e 1830, era moda o uso de vários braceletes, grandes e diferentes. As mulheres usavam por volta de cinco diferentes braceletes, com pedras preciosas e figuras gravadas, que cobriam o antebraço do pulso ao cotovelo.

Cada vez que se faz uso consciente de um acessório, enfeite ou jóia, feito com pedras preciosas que contém todo o potencial das forças mágicas milenares, pode-se transformar essa energia em mais uma ferramenta para o trabalho de construção de um futuro bem sucedido. Desde tempos imemoriais o homem vem usando cores e formas em uma tentativa de controlar seu destino e influenciar a sorte. No decorrer dos anos esse esforço foi se consolidando e tornando-se mais sofisticado sem porém, perder a importância. Nessa época cibernética muito pouco desse conhecimento foi preservado, porém o hábito persiste sem que se tenha consciência disso.

Em meio a uma infinidade de pedras preciosas e semipreciosas, existem quatro espécies que sempre se destacaram em matéria de valor místico e monetário. Rubis, safiras, esmeraldas e diamantes possuem uma história que leva aos primórdios das civilizações. A eles juntam-se o âmbar e a pérola, duas pedras orgânicas, cuja origem de mistérios insolúveis, tornou-as extremamente preciosas dentro do universo metafísico das gemas.

Jóias e moda, magia e beleza, sempre estiveram intrinsecamente ligadas na mente humana. Usadas por milênios como amuletos de proteção e talismãs, as jóias combinadas com a moda possuíam um papel fundamental, tal e qual nos dias de hoje, entre os povos civilizados e mesmo protocivilizados. Desde as pedras gravadas com sinais misteriosos e mágicos até as peças atuais, com o único intuito de enfatizar a beleza, a importância das jóias como um complemento da moda não diminuiu em nada em milhares de anos.

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